As espécies de animais invasores que mais causam problemas no Brasil

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Espécies invasoras são organismos não nativos, que, após introduzidos, se reproduzem descontroladamente e prejudicam o ecossistema local. Quando esses animais exóticos se estabelecem em determinada região, eles competem por espaço e alimentos com as espécies nativas, desafiando o equilíbrio natural.

Na ausência de predadores naturais, muitas espécies exóticas são capazes de se multiplicar rapidamente e causar a extinção de plantas e animais silvestresreduzir a biodiversidadecompetir com organismos nativos por recursos limitados, alterar os habitats e contaminar as nascentes. Além dos severos danos ao meio ambiente, algumas espécies invasoras tem o potencial de causar sérios prejuízos à agricultura e pecuária. Também se coloca em risco a saúde humana.

Ao redor do mundo, diversas espécies tornaram-se intrusas inesperadas, rompendo o equilíbrio ambiental. Nesse artigo, abordaremos as principais espécies de animais invasores que mais causam problemas no campo e nas cidades brasileiras.

Javali

Javalis asselvajados (Sus scrofa) estão entre as espécies invasoras mais destrutivas do mundo. Esses invasores foram trazidos pela primeira vez para Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com a finalidade de criação para consumo. No entanto, algumas fontes indicam que na década de 1990, após decisões políticas equivocadas por parte dos órgãos ambientais, criadores foram impedidos de continuarem com suas atividades e acabaram por libertar esses animais na natureza. Posteriormente, também houveram relatos de que javalis imigraram para o Rio Grande do Sul, a partir do Uruguay. Os suínos selvagens de hoje são descendentes de javalis introduzidos no Sul do Brasil, porcos domésticos fugitivos e híbridos dos dois. Javalis são animais originários da Ásia, Europa e norte da África.

No Brasil, os javalis já foram avistados em todos Estados, com densidade populacional mais altas nas regiões onde há a cultura de milho, soja e cana-de-açúcar. Os javalis e seus híbridos possuem grande presença nessas regiões de cultivo. Porém, muitos deles buscam refúgio em florestas, áreas montanhosas e parques de conservação da vida selvagem, colocando espécies nativas em risco.

Javalis causam enormes prejuízos à agricultura, pecuária e ao meio ambiente

Como esses suínos asselvajados são onívoros, e comem praticamente tudo o que conseguem encontrar, eles competem diretamente com os animais silvestres, por fontes de alimento. Acredita-se que aproximadamente 85% a 90% da sua dieta seja composta por vegetação (incluindo culturas, quando disponíveis) e 10% de origem animal. Enquanto procuram alimentos, os javalis usam seus focinhos e presas para revirar o solo, destruindo pastagens, plantações e nascentes.

Os javalis asselvajados são conhecidos por carregarem diversas doenças e parasitas que podem se transmitir a humanos, animais de estimação, de criação e silvestres. Entre as principais zoonoses que podem estar presente no javali, encontram-se a toxoplasmose, leptospirose, brucelose, raiva, síndrome respiratória e reprodutiva dos suínos e gripe suína (influenza A).

Estima-se que esses porcos causem bilhões de reais em danos ambientais, agrícolas e pecuários, anualmente no Brasil. E a tendência é que o problema se agrave, considerando a rapidez no qual se reproduz e a burocracia que o governo impõe para a controle. Uma javalina (javali fêmea) atinge maturidade sexual a partir dos 6 meses. E com uma gestação de apenas 110 dias, gera uma ninhada de 6 a 8 leitões.

Lebre europeia

A Lebre-europeia (Lepus europaeus) é originária do Sul da Europa e Norte da África e foi introduzida em todos os continentes, exceto Antártica e Ásia. Trazidas, pelos primeiros colonos, principalmente como fonte de alimento.

Em nosso país, a Lebre europeia – ou lebrão, como também é conhecida – está mais presente nos Estados do Sul e do Sudeste. Mas, já há registros no Centro-Oeste do Brasil. Vivem em pastagens e lavouras nas bordas das matas, mas também podem habitar banhados e margens de rios e lagos.

A lebre é pequena no tamanho, mas causa grandes danos

As lebres europeias são herbívoras e possuem hábitos noturnos, saindo em busca de alimentos ao anoitecer. Comem brotos de gramíneas, ervas e plantações durante o verão. Durante o inverno, as lebres se alimentam de galhos, botões, cascas de arbustos, cascas de árvores frutíferas jovens, plantações de verduras e pastagens de inverno, como a aveia e o azevém. Duas ou três lebres europeias adultas podem comer tanto quanto uma ovelha, causando muitos prejuízos em pequenas propriedades, pomares e lavouras de verduras. Áreas de cultivo de brócolis e couve-flor chegam a ter perda total, com a presença das lebres. Já nos pomares de laranja, limão, tangerina e maçã, a lebre rói o caule, que impede a circulação da seiva e leva a árvore à morte em poucos dias.

As lebres europeias são espécies invasoras que se reproduzem muito rapidamente. Em um ano, uma lebre pode ter de quatro a sete gestações, gerando entre 18 e 30 filhotes! Quando não há controle, a população de lebres aumenta tão rapidamente que chega a devastar lavouras e levar as gramíneas nativas ao limite, em certas áreas. Além disso, elas competem por alimento e abrigo com os tapitis (Sylvilagus brasiliensis), a lebre nativa do Brasil, causando um declínio no número de exemplares e, até mesmo, a extinção em certas regiões. Além disso, essa espécie invasora causa erosão do solo devido à escavação e ao pastoreio excessivo, prejudicando muitas espécies que dependem desse mesmo habitat.

Cervo axis

A história do Cervo axis (Axis axis) é relativamente recente no Brasil. Essa espécie invasora chegou ao Brasil a partir do Uruguai e Argentina (onde foram introduzidos). No território nacional, avistaram-no pela primeira vez em 2009, no município de Barra do Quaraí/RS, próximo à fronteira com o Uruguai. A partir de então, o Cervo axis difundiu-se por todo o território do Rio Grande do Sul, chegando à Santa Catarina, em 2019. O primeiro registro, em Solo Catarinense, foi feito em São José do Cedro/SC. Além disso, observadores avistaram exemplares dessa espécie em diversas cidades catarinenses, como Jaraguá do Sul/SC, Ibirama/SC, Içara/SC, Seara/SC, São Joaquim/SC e diversas outras.

No Paraná, o bicho já foi avistado no Parque Nacional do Iguaçu e na cidade de Cascavel/PR, em outubro de 2023.

O Estado de São Paulo teve o primeiro exemplar do Cervo Axis encontrado atropelado em Monte Alto/SP, em abril de 2024. Isso acende um alerta de que o bicho está se espalhando rapidamente pelo país, enquanto as autoridades, mais uma vez, repousam em “sono profundo”.

cervo axis - uma espécie invasora recente no Brasil
Cervo axis: Uma espécie invasora recente no Brasil

Características, reprodução e habitat do cervo axis

O cervo axis, ou chital, é originário da Índia, Nepal e Sri Lanka. É um cervo de tamanho médio. Enquanto as fêmeas alcançam cerca de 45 kg, os machos atingem 90kg, ou mais. A pelagem varia do vermelho enferrujado ao marrom escuro, com manchas brancas ao longo do corpo e faixa dorsal escura. Além disso, os machos adultos possuem galhadas de até 80cm.

As fêmeas adultas do cervo axis dão à luz de 1 a 3 filhotes, após uma gestação de 210 a 238 dias. Como é comum com espécies invasoras, o cervo axis também encontra poucos predadores naturais no Brasil. A ausência de predadores, aliado a ocorrência de nascimentos gêmeos e trigêmeos, são aspectos que contribuem para o rápido crescimento populacional. Estimativas indicam que a população de cervos axis esteja aumentando de 20% a 30% a cada ano. A morosidade dos órgãos ambientais (e políticos), em regulamentar o controle dessa espécie, só vai agravar o problema.

Cervo axis habitam uma infinidade de ambientes, incluindo campos abertos e florestas (até mesmo as mais densas). Mas, prefere bosques e clareiras próximas a cursos de água. Esse animal invasor tem uma dieta diversificada e alimenta-se do que estiver disponível no local, incluindo pastagens e culturas. O comportamento do cervo axis é muito semelhante ao do cervo nativo, com a maior parte da atividade ocorrendo ao amanhecer e ao anoitecer.

Os problemas causados pelo cervo axis

Embora não seja conhecido por ser uma espécie agressiva, o cervo axis traz uma série de problemas ambientas, econômicos e sanitários. Frequentemente se reúnem em grupos, que consomem exaustivamente a vegetação nativa, danificam as árvores, dispersam sementes de ervas daninhas, sujam a água e causam erosão do solo. Além de danificar habitats sensíveis, o cervo axis também compete por alimento (de maneira desigual), com as espécies de cervos nativas.

Com relação aos problemas de ordem econômica, a espécie é conhecida por devastar pastagens, jardins e plantações. Além disso, causam severos danos aos pomares, consumindo a brotação das árvores jovens e até mesmo a casca das árvores adultas, levando-as à morte.

Para a agropecuária, além de consumir as pastagens, a cervo axis pode transmitir e espalhar tuberculose bovina e várias outras doenças, causando perdas de produção e aumento dos custos. Além disso, o cervo axis carrega parasitas que podem afetar humanos, quando as fezes desses animais contaminam fontes de água. O cervo axis também carrega outras zoonoses como Leptospirose, Criptosporidiose e Escherichia coli.

Búfalo

Os humanos distribuíram o Búfalo (Bubalus bubalis) por todos os continentes (exceto a Antártica) para produzir carne, couro e laticínios. No entanto, devido ao seu comportamento difícil, em diversas regiões do globo, eles acabaram escapando e tornaram-se asselvajados, com populações fora de controle. No Brasil, há registros de milhares de bubalinos asselvajados nas planícies costeiras do Amapá, na Baixada Maranhense, no vale do Guaporé em Rondônia e no Pantanal do Mato Grosso do Sul.

Na natureza, os búfalos buscam florestas e pastagens úmidas. Apesar de serem considerados terrestres, eles dependem bastante da água e passam a maior parte do tempo mergulhando em rios, pântanos ou lamaçais. Esses ambientes fornecem água e forragem abundante aos búfalos. Devido a sua rusticidade e completa ausência de predadores naturais, o búfalo não encontra obstáculos para se multiplicar nos biomas brasileiros.

O Búfalo é uma espécie invasora no vale do Guaporé, em Rondônia
O Búfalo é uma espécie invasora no vale do Guaporé, em Rondônia

Búfalos causam sérios problemas ambientais

O búfalo é conhecido por causar extensos danos ambientais às zonas húmidas e pastagens no Brasil. O pastoreio excessivo e o pisoteio resultaram numa redução, ou até mesmo a remoção completa da vegetação, em certas áreas. Como consequência, o solo fica exposto e susceptível à erosão, causando assoreamento dos cursos de água. Além disso, populações de búfalos asselvajados competem por alimento, de forma desleal, com as espécies silvestres. Dado a sua permanência na água, o búfalo também perturba jacarés e muitas aves aquáticas que dependem desse habitat. Sem dúvidas, é uma das espécies invasoras que merece atenção.

Búfalos asselvajados também são capazes de atacar pessoas, causar ferimentos graves ou até mesmo matar. Na pecuária, o impacto pode ser bem negativo, pois os búfalos selvagens podem transmitir doenças importantes do gado, como a tuberculose e a brucelose.

Capivara

A Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) é um grande roedor Sul Americano, nativo de países como a Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, França (Guiana Francesa), Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai, Venezuela e o Brasil. Os machos podem alcançar até 90kg.

Fontes de água doce, como rios, lagos, pântanos e manguezais, são habitat ideal para as capivaras. Elas vivem, se escondem e alimentam-se no entorno desses ecossistemas. As capivaras podem apresentar hábitos tanto diurnos quanto noturnos. É um animal extremamente adaptável, podendo prosperar em ambientes altamente alterados pelo homem. A capivara consome plantas aquáticas, gramíneas, arbustos e plantas do gênero Heliconia em sua dieta na natureza.

No Brasil, apesar de não ser propriamente uma espécie invasora, a ausência de predadores naturais está fazendo com que as capivaras se multipliquem de forma descontrolada, principalmente próximo a centros urbanos. As capivaras se reproduzem durante o ano todo e a gestação dura, em média média, 150 dias. As ninhadas costumam ter de ter de 1 a 8 filhotes. Além disso, uma determinada capivara pode adotar os filhotes das demais, liberando-as para uma nova gestação. Essa estratégia faz o bando aumentar muito mais rápido.

A primeira vista as capivaras parecem inofensivas, mas não são!

A multiplicação descontrolada da capivara tem levado a maior ocorrência de colisões com veículos, danos crescente às plantações, propagação da febre maculosa brasileira e consequências ecologicamente desastrosas para certos ecossistemas.

Carrapato-estrela: A febre maculosa pode ser letal em até 60% dos casos.
Carrapato-estrela: A febre maculosa é letal em até 60% dos casos.

Bandos cada vez maiores de capivaras vivem nas margens de represas e rios, consumindo toda a vegetação rasteira e herbácea das matas ciliares, causando erosão do solo e danos ambientais consideráveis. Vale lembrar que a Lei protege as matas ciliares devido à sua função na regulação dos ciclos hidrológicos, conservação da água e do solo, retenção de sedimentos, fixação de carbono, filtragem de poluentes e estabilização das margens dos rios. As capivaras, nas proximidades (quilômetros) dessas áreas, também costumam dizimar culturas de milho e pastagens, causando sérios prejuízos econômicos.

Outro ponto que merece alerta é o de que a capivara está associada à propagação da febre maculosa brasileira (a mais letal do mundo). As capivaras são responsáveis pela manutenção e transporte de grande número de carrapatos-estrela (Amblyomma sculptum). Tal carrapato é um reservatório natural e principal vetor da bactéria Rickettsia rickettsii, agente etiológico da febre maculosa brasileira. As capivaras também podem atuar como hospedeiros amplificadores de R. rickettsii entre as populações de A. sculptum. Portando, o descontrole populacional da capivara representa um sério risco à saúde pública.

Considerações finais sobre as espécies invasoras no Brasil

A invasão de espécies animais no Brasil, como javali, lebre europeia, capivara, cervo axis e búfalo, apresenta desafios significativos para o ecossistema, a agricultura e a pecuária. Um ponto comum entre essas espécies é sua capacidade de adaptação rápida e reprodução descontrolada, resultando em prejuízos ambientais e econômicos. Para enfrentar esse problema, estratégias eficazes de controle são essenciais.

A implementação de políticas públicas abrangentes é crucial para lidar com o impacto dessas espécies invasoras. Isso inclui a criação e execução de programas de monitoramento e manejo através da caça, visando mitigar os efeitos negativos em ecossistemas locais. A cooperação entre diferentes setores, como ambiental, político, agrícola e pecuário, é fundamental para desenvolver abordagens integradas e eficientes.

Além disso, é imperativo conscientizar a população sobre os riscos associados às espécies invasoras e promover práticas sustentáveis. Incentivar a adoção de medidas preventivas, como a não liberação irresponsável de animais exóticos, é essencial para evitar a proliferação descontrolada dessas espécies.

Em última análise, a solução para o problema das espécies invasoras requer uma abordagem multifacetada, envolvendo pesquisa científica contínua, cooperação interinstitucional e engajamento da sociedade. Somente por meio de um esforço conjunto e políticas públicas sérias podemos preservar a biodiversidade, proteger os meios de subsistência agrícolas e pecuárias e garantir a sustentabilidade ambiental a longo prazo.

Publicado por Saty Jardim em / Atualizado em 25 de abril de 2024

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